quarta-feira, 18 de maio de 2016

Consoladora dos Aflitos

Consolatrix afflictorum, ora pro nobis



Se achei graça a teus olhos, ó rei, ... salva meu povo (Ester, 7)



Consolador é o Cristo; consolador, o Espírito que ele nos enviou com o nome de Espírito Paráclito, ou seja, exatamente, Espírito que nos chama para junto de si, (Paráclito vem de pará-kaléo), e,nesse estar junto, nos consola. Se me permitissem um exercício de "etimologia descomprometida", diria que "consolar" tem tudo para vir de "cum" + "solus", e seria "estar perto" ou "ficar com aquele que está só". Em rigor, não é bem assim, mas tendia-se, mesmo entre os latinos (Santo Agostinho fez isso em uma de suas Cartas, Epist. 130, 3), opor "consolatio" a "desolatio", ou seja, "consolação" a "desolação". Isto significa que já os antigos pensavam numa espontânea associação de estar só (desolado = isolado) com estar aflito, triste: e do estar com, estar junto, com alegria e "con-solação".De qualquer modo, o Cristo que veio até nós e mandou para junto de nós o Espírito é, por isso mesmo, o Consolador. E é na medida em que participa desse estar conosco, desse nos chamar para junto de si, que também Maria, mãe de Jesus, é a consoladora dos que sofrem. Unida aos sentimentos de Cristo e do "Pai das misericórdias e Deus de toda consolação" (1Cor 1,3), Maria foi sempre invocada como a consoladora dos aflitos: "Maria condoía-se dos míseros e aflitos, co-aflita ela mesmo, e os ajudava sem demora". É o que se encontra numa "Carta" apócrifa, atribuída a Santo Inácio de Antioquia. Desde o princípio da Igreja, estar com Maria, poder contar com ela, aproximar-se de seu coração, ouvi-la, vê-la, saber que ela intercedia pelo sofredor, enchia os corações cristãos de alegria. Este sentimento se encontra expresso em vários textos apócrifos, mas muito antigos, atribuídos a Santo Dionísio Areopagita, a Santo Inácio de Antioquia. Há até mesmo, nessa literatura piedosa e antiga, uma "Carta" da Virgem Maria a Inácio, confortando-o na prisão e preparando-o para o martírio. E numa "Carta" do Pseudo-Dionísio a São Paulo, o autor atribui a Dionísio as seguintes e célebres palavras, após a visita que ele teria feito à Mãe de Jesus: "Se eu não conhecesse pela fé a divindade de Cristo, eu a teria tomado por uma deusa e a teria adorado" (Pseudo-Dionysius, Epist. ad Paulum).Essa mãe feita de beleza, suavidade, paz; amadurecida pelo sofrimento sem se ter deixado amarrotar por ele, foi sempre, na Igreja, chamada "Consoladora dos aflitos". Pois é, Mãe de misericórdia e de toda consolação, rogai por nós. (RANGEL, 1991)















Notas:

RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991.


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