Regina sacratissimi Rosarii, ora pro nobis.
O Rosário, quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao âmago da vida cristã, oferecendo uma ordinária e fecunda oportunidade espiritual e pedagógica para a contemplação pessoal, a formação do Povo de Deus e a nova evangelização.
(São João Paulo II, in Rosarium Virginis Mariae)
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Madona del Rosario (Caravaggio) |
Ameaçado o cristianismo por uma avançada militar do Império
Otomano, que estava na Europa, trazendo, não só suas armas, mas também sua
cultura, sua religião muçulmana – a Igreja inteira, estimulada pelo Papa, se
empenhou, rezando pela vitória das armas cristãs, na grande e decisiva Batalha de Lepanto, a 7 de outubro de 1571. Lepanto era uma cidade e porto importante
da Grécia, junto ao Golfo de Corinto, onde se travou a famosa batalha naval, em
que a esquadra cristã, comandada por João da Áustria derrotou os turcos e
afastou o perigo islâmico, durante séculos. O Papa São Pio V, que havia pedido
a toda a Igreja que recitasse o Rosário na intenção da vitória, instituiu, em
ação de graças, a Festa Litúrgica de Nossa Senhora do Rosário. Mas quem,
afinal, introduziu nas Ladainhas Lauretanas a invocação: “Rainha do Santo
Rosário, rogai por nós”, foi o Papa Leão XIII, em 1883.
Não é ao Rosário que se visa em primeiro lugar, mas à
Virgem, cuja lembrança se cultua tão particularmente nessa oração. De fato,
Maria é ali incansavelmente invocada, sua memória louvada, sua figura voltando
sem cessar aos lábios e às mentes.
Mas é muito importante, aqui também, como em tudo o que se
refere a Maria, ressaltar o sentido cristológico da invocação e do título, “Rainha
do Santo Rosário”. Porque o Rosário não é apenas uma louvação oral. É, muito
profundamente, uma oração meditativa. E a meditação nos conduz a pensar
amorosamente nos mistérios da vida de Jesus, “dentro do horizonte do mundo e da
vida de Maria”. É Maria nos levando a participar do universo de seu pensamento
e do seu coração, que todo se move em torno de Jesus. A gente vai, Maria nos
conduzindo pela mão, comungar da própria ação salvífica de seu Filho. De fato,
nós vamos passando pela infância (mistérios gozosos), a Paixão (mistérios
dolorosos), e à vida depois da morte (mistérios gloriosos), com essa particularidade: tudo iluminado pelo
olhar, pela perspectiva, o ponto de vista da Mãe, da mulher. E mesmo da Mulher,
“Hawwáh”, “Hevah”, quer dizer Eva, a “primeira” mulher, a mãe de todos os
vivente, fonte da vida, que, infelizmente, se transformou, pelo pecado, em
fonte da morte também. Mas a “primeira” Mulher, a verdadeira Hawwáh (que quer
dizer VIDA), reapareceu em Maria, a quem Jesus chamava sempre, por isso mesmo,
de Mulher, “Hawwáh”.
O Rosário nos leva a ver Jesus de uma perspectiva que revela
a visão feminina da vida e dos mistérios dele. É um pouco disso que procuramos
recuperar quando chamamos a Maria de Rainha do Santo Rosário.
Costumam-se recitar as invocações da ladainha como conclusão
da oração do Rosário, e uma delas invoca Nossa Senhora precisamente como Rainha
do Rosário, ou seja, a mulher que se contempla e a quem se reza no Rosário,
colocada em sua realidade verdadeira de mãe do Filho de Deus e plenamente
inserida no mistério de Cristo.
É preciso repropor o valor dessa forma de oração, porque
hoje é muito fácil recusá-la e relega-la a recordações passadas como se não
fosse maneira digna de dirigir-se a Deus.
Trata-se, é verdade, de oração que se funda na repetição das
mesmas fórmulas (as Ave-marias) cinquenta vezes, razão pela qual é muito fácil
distrair-se deixando que os lábios continuem a repetir as mesmas palavras
enquanto a mente divaga longe. A distração é sempre cilada para nossa mente e
nosso coração, não apenas quando nos pomos a rezar; e em certo sentido é sinal
de nossa natureza humana atraída por milhares de propostas. Não pode, porém,
ser desculpa para negar o valor da oração, ainda que seja impossível não
encontrar limites e fraquezas.
O que mais importa, porém, é descobrir a verdadeira
consistência do Rosário, sua formulação e por conseguinte seu valor como
meditação e contemplação da vida de Jesus.
Maria é sempre a mãe de Jesus. Oração dirigida a ela só pode
dirigir-se a Jesus, a quem se voltam todo louvor e todo agradecimento.
O Rosário toma a pessoa pela mão e leva-a a refletir nos “mistérios”
de Jesus, ou seja, nos momentos mais importantes de sua vida. Esses “mistérios”
levam o fiel a demorar-se na meditação de acontecimentos que formam o conteúdo
da história da salvação e continuam a ser sustentáculos da fé cristã. A
insistência nesses elementos objetiva entender melhor a própria fé, tornando-a
mais viva e fecunda.
Talvez tenha sido essa intuição mais ou menos consciente que
inspirou a iconografia mariana a representar Nossa Senhora muitas vezes com o
Rosário nos braços. Também nos eventos a que chamamos “aparições” de Nossa
Senhora o Rosário sempre está em seus braços, tornando-se também forma de
comunicação com ela.
Compreende-se assim que aquilo que a fé cristã ensina sobre
Jesus e sobre sua mãe, bem como sobre nosso relacionamento com ele, alia-se à
fantasia, à criatividade, à devoção e ao desejo de acolher tudo o que se nos
oferece e de inseri-lo profundamente no viver cotidiano, na sensibilidade das
pessoas e na diversidade das experiências de cada um.
Maria Rainha do Rosário apresenta-se então como a mãe que
ensina a seus filhos uma forma de oração, revelando-lhes os segredos da ação de
Deus tal como se realizou no tempo estabelecido e continua a ofertar-se ao
longo dos séculos a todos os que se puserem a sua escuta.
Dizer o Rosário é forma clássica de expressar a devoção a
Nossa Senhora, assim como também forma de manter vivas nossa fé em Jesus, nossa
responsabilidade como seus seguidores, nossa tarefa de testemunhas perante o
mundo e de “fermento” na massa, assim como também nossa dimensão eclesial.
O Rosário torna-se comunitária e pessoal, repetitiva e
sempre nova, vocal e mental: oração que ensina a rezar levando a alma a
contemplar Maria, Mãe da Igreja e modelo da mais autêntica vida cristã.
A Importância do Santo Rosário (Pe Paulo Ricardo)
Veja Como Rezar o Rosário
NOTAS:
1 - Carta Encíclica Rosarium Virginis Mariae, Sobre o Rosário - Papa João Paulo II.
2 - RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: Editora O Lutador, 1991.
3 - BASADONNA, G. e SANTARELLI, G.. Ladainhas de Nossa Senhora. São Paulo: Loyola, 2000.
4 - VAZ, Dom José Carlos de Lima. O Louvor a Maria. São Paulo: Loyola, 2005.
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