quinta-feira, 19 de maio de 2016

Virgem Louvável

Virgo praedicanda, ora pro nobis.



 nunca o teu louvor cessará de ser celebrado pelos homens (Judite 13: 25)




O Padre Paschoal Rangel sugere que o termo "louvável" não traduz bem a palavra latina que se encontra na Ladainha: "Virgo Praedicanda".
"Praedicanda" vem de "praedicare". Os dicionários explicam que "praedicare" quer dizer proclamar em alta voz, dizer de público diante de testemunhas, exaltar, celebrar. O louvor aqui é público, louvor pregado pelos auto-falantes da  história, louvor solene, total. Maria é celebrada pelos céus e pela terra, "de geração em geração", como a própria Virgem disse um dia, inspirada pelo Espírito Santo. Seu louvor será pregado pelos profetas, pelos Santos Padres, pelos Papas, pelo povo fiel, na sua humilde e multitudinária louvação. Seu nome foi semeado pelo mundo afora, nos santuários internacionais, de Lourdes a Fátima, de Czestochova e do Líbano a Aparecida e Guadalupe, de Loreto a todo o mundo. O Brasil está estrelado de cidades com o nome de Maria e seus vários títulos, todinho, todinho. É o povo cristão que, em toda parte, nas formas mais bonitas e simples, celebram a Virgem.
A Liturgia, oração do povo de Deus; a Liturgia, que foi captando, através das idades, os sentimentos e as devoções populares e as foi filtrando e tornando sempre mais católicas, sem misturas, purificadas dos sincretismos desviantes; a Liturgia acolheu e faz repetir, com palavras da Escritura, um enorme e riquissimamente variegado louvor de Maria. A Bíblia é assim verdadeiramente interpretada (uma interpretação em sentido lato, popular, uma apropriação, mas, sem dúvida, de acordo com o "sensus Eclesiae" - o sentido e sentimento da Igreja - e a "analogia fidei" - a analogia da fé -, em favor da bendição, espalhada por toda parte, da Virgem digna de toda louvação. É assim aplicado à Virgem Maria o Cântico dos Cânticos, o Livro da Sabedoria, os Salmos, as figuras de Ester, de Rute, de Judite.
Mas a Bíblia não louva apenas quando proclama. A Bíblia sabe o louvor do silêncio: "Tibi silentium laus" - o silêncio é um louvor para ti. Por isso, escreveu São Tomás de Vilanova: "Os santos evangelistas calam-se sobre os louvores de Maria, porque sua grandeza é indizível. Foi suficiente escreveu: dela nasceu Jesus, que se chama o Cristo".
Há, pois, um louvor no silêncio. Há também um louvor na imitação. Ainda me lembro da criança que "adorava" a professora e, mesmo sem dizer-lhe quanto gostava dela, ficava procurando imitar-lhe a letra, os gestos, a voz. Pois é assim que os Evangelhos nos apontam Maria: eles nos mostram a Virgem Mãe que prestava atenção no Filho queridíssimo e meditava em todas as coisas que ele fazia ou dizia: a Virgem que soube absorver até mesmo os enganos cometidos e as "chamadas" do Cristo e transformar tudo em aprendizagem; a "Mulher", imagem da Humanidade remida, amorosa e silente ao pé da Cruz. O Evangelho nos deixa Maria como exemplo. E imitá-la é outra forma de louvor.
Virgem digna de todo louvor, Virgem que queremos anunciar, pregar, celebrar no silêncio e na imitação, rogai por nós. (RANGEL, 1991)










Notas:


RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991.

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