Mater boni consilii, ora pro nobis.
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Mater boni consilli (Pasquale Sarullo) |
Esta invocação foi introduzida
na Ladainha Lauretana pelo Papa Leão XIII por um decreto do dia 22 de abril de
1903.
O “conselho” é um dom do Espírito Santo. Um dom especialíssimo, que vem suprir as dúvidas e deficiências de nossa prudência. A prudência é uma grande virtude humana, e pode ser fortalecida pela graça, tornando-se, assim, uma virtude sobrenatural.
Mas a experiência é longa, antiga: as virtudes não excluem a natureza do homem; apenas a aperfeiçoam. E é frequente que, mesmo apoiado pela graça, o homem vacile, tenha medo, se sinta inseguro. É aí que pode agir o “dom” do Espírito Santo: sob sua ação, desaparecem as dúvidas, caem as barreiras, o homem “recebe! (gratuitamente) forças e luzes especiais, que o ajudam a viver em plenitude, apesar de todas as dificuldades. O dom específico do “conselho” age em nós na área da virtude da prudência. Sabe-se que a prudência nos guia na hora de agir, nos fortalece e dirige dentro da prática cotidiana.
Pois bem, Maria, cheia sempre do Espírito Santo, e medianeira, por vontade de Deus, das graças que o Espírito nos concede, pode alcançar-nos, por sua intercessão, esse dom importantíssimo do conselho. Por isso, invocamo-la assim: “Mãe do bom conselho, rogai por nós”.
Mas “conselho” pode significar também, na Escritura, uma orientação: “A respeito das virgens” – escreveu São Paulo – “dou um conselho” (1 Cor 7,25). Ou então, quer dizer uma capacidade de entender as coisas com sabedoria e clarividência, com uma inteligência que sabe o que importa fazer em circunstâncias concretas. No Livro dos Provérbios se diz: “Meum est consilium”, isto é, “é de mim (da Sabedoria) que vem a orientação segura” (Pr 8,14).
Jesus foi chamado pelo Profeta Isaías “Admirável, Conselheiro, Deus” (Is 9,6). Também neste sentido, podemos invocar Maria, como a Mãe do Bom Conselho, a Mãe do Conselheiro Admirável e divino; ou ainda, aquela que, falando no íntimo de nossa consciência, só nos orienta para o bem.
O Livro do Eclesiástico alerta: “Consiliarius sit tibi unus de mille”. Que quer dizer: “Escolhe para teu conselheiro um entre mil” (Eclo 6,6). Certamente não nos enganaremos, de modo algum, escolhendo Maria.
Mas é principalmente enquanto ela nos pode conseguir ser assistidos mais frequentemente pelo dom do Espírito Santo que a devemos invocar de coração: “Mãe do bom conselho, rogai por nós”. (RANGEL, 1991)
Nossa Senhora é invocada como “mãe do bom conselho”, aquela que sabe dar conselho “bom”, ou seja, útil e discreto, a quem pede.
O mundo está cheio de “conselheiros”: todos os meios de comunicação social, todas as transmissões de rádio e televisão, toda a publicidade e as propagandas de qualquer gênero, desde as referentes à política, à economia até ao lazer, não fazem outra coisa que descarregar conselhos e fazer propostas que sempre se apresentam como vantajosas aos destinatários.
Está se tornando assim a humanidade massa uniforme, presa sempre nas peias de conselhos e apelos que nivelam os indivíduos moldando-os segundo modelos preestabelecidos. Nosso mundo, precisamente porque rico de maior e formas de comunicação, leva facilmente as pessoas ao condicionamento. Elas não conseguem lançar mão de “conselhos” como pontos de partida e sementes que se devem fazer germinar e crescer, e deixam-se, ao contrário, encaixar e tomar a forma dos vários continentes.
Por isso as pessoas hoje raramente pedem conselhos com intenção leal de medir-se e confrontar-se com o parecer de outros considerados capazes de entender e abrir novas pistas para o próprio caminho.
Hoje todos pensam que são capazes de “arranjar-se” sozinhos, sem ajuda de outrem, também porque têm medo de deparar com esclarecimentos desagradáveis e revelações incômodas, medo de precisar considerar negativo o que já aceitaram como bom. Muitas vezes, porém, pedir conselho significa pedir aprovação, sentir-se compreendido e sustentado nas próprias escolhas, ter uma segurança a mais e poder repousar na própria consciência sustentada pelo parecer de outrem.
Assim, estamos num mundo sem iniciativas corajosas, sem novas cores, sem personalidades que se tornam fermento na massa e fazem pensar.
Com frequência, infelizmente também no mundo católico corremos o risco de arrastar-nos pesadamente em hábitos há séculos consolidados ou em opções impostas por pessoas “carismáticas”, como se costuma dizer, com o resultado de nos tornar passivos e repetitivos, anônimos e por conseguinte estéreis, carentes de testemunhas que façam aparecer a presença do Espírito.
A devoção a Nossa Senhora pode ser antídoto a essa doença e levar, ao contrário, à postura desejosa de “conselho”, ou seja, de confrontar-se com palavras que sacodem de certa forma a preguiça, abrindo novos caminhos.
Maria é a mãe que dá bom conselho conclamando a que acolhamos o anúncio que vem de Deus, sua vontade expressa na palavra da Bíblia, no gesto litúrgico ou também no devir das coisas do dia-a-dia: é mãe que convida a pôr-se a caminho para levar ajuda aos necessitados, ainda que seja difícil a viagem e haja mil desculpas para a evitar.
Maria é a mãe que nos aconselha a ser atentos ao que acontece em nosso redor e a apontarmos a necessidade quando surge, quando vem a faltar o vinho da generosidade, do serviço, da fé e da compreensão mútua.
É a mãe que aos pés da cruz recebe a tarefa de acolher em seu seio fecundo o gênero humano resgatado pela morte do Filho. Dá-nos aí o conselho de nos tornar colaboradores da redenção que sempre acontece no sangue e sempre precisa de participação corajosa.
Se pedirmos conselho a Maria, sem dúvida poderemos reencontrar em nós sinais de nossa vocação pessoal, dados pelo próprio Deus para nos fazer testemunhas de seu amor. (BASADONNA, 2000)
Notas:
1 - História da Mãe do Bom Conselho
2 - Santuario Madre del Buon Consiglio (Itália)
3 - All About Mary
5 - Mother of Good Counsel (pdf)
6 - RANGEL, Paschoal. Maria, Maria.... Belo Horizonte: O Lutador, 1991)
7 - BASADONNA, Giorgio. Ladainhas de Nossa Senhora. São Paulo: Loyola, 2000.
8 - VAZ, Dom José Carlos de Lima. O louvor de Maria. São Paulo: Loyola, 2005.
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