sexta-feira, 27 de maio de 2016

Introdução


O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras.

Desde a eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra.

Quando ainda não havia abismos, fui gerada, quando ainda não havia fontes carregadas de águas.
Antes que os montes se houvessem assentado, antes dos outeiros, eu fui gerada.
Ainda ele não tinha feito a terra, nem os campos, nem o princípio do pó do mundo.
Quando ele preparava os céus, aí estava eu, quando traçava o horizonte sobre a face do abismo;
Quando firmava as nuvens acima, quando fortificava as fontes do abismo,
Quando fixava ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o seu mando, quando compunha os fundamentos da terra.
Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo;
Regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens.
Agora, pois, filhos, ouvi-me, porque bem-aventurados serão os que guardarem os meus caminhos.


CONFESSO a minha ignorância e arrogância! Confesso a minha impotência em face de algo tão grandioso e inesgotável: como é o falar sobre a Virgem Maria. Lá no início, quando me propus a escrever este blog - quem sabe transformado em livro, um dia, pensava eu - não achei que estava me propondo a uma tarefa quase impossível. Pensava que poderia fazer algo que tivesse um início, um meio e um fim. Maria é inesgotável, contudo! É o que descobri, já em tão pouco tempo, e tive que admitir, um pouco envergonhado, minha incapacidade.  

Agora, que estou formando uma biblioteca, que já conta com dezenas de volumes de 500, 600, 700 páginas, sinto-me meio perdido. O que fazer, então? Apagar o que já fiz para diminuir a vergonha da pretensiosidade da obra? Devem estar pensando que seria o mais prudente a fazer e que o farei. Mas, não! Por enquanto, não! Se o Espírito Santo foi que colocou na minha pobre cabecinha o desejo de escrever sobre a Ladainha de Nossa Senhora, é o que farei. Ainda que seja só para reunir e dar notícias das grandes obras que já foram escritas. Se a Virgem Maria o quiser ela dará um jeito de evitar maior vergonha e dará o destino certo para o que me coloquei à Sua disposição por fazer. Mas já sei: é obra para uma vida inteira e não será - com o tempo que me restar - nem uma gotinha no oceano incomensurável que é a Mãe de Deus.
Como pude pensar que poderia - depois de 2000 anos de cristianismo, depois de tantos santos, profetas e grandes teólogos - dar alguma contribuição à história da Mãe de Deus? E grifo.

Espero que o Trindade Santa e a doce Virgem Maria não permitam que este pequeno estudo seja desvio do Caminho, da Verdade e da Vida para ninguém que, por acaso, o leia.

Continuarei no propósito, então, procurando não errar, e compartilharei, passo a passo, o que for recolhendo no caminho.  Deixarei, como lembrança e lição de humildade, as palavras arrogantes, que havia posto numa "provisória" introdução. Podem pulá-las, contudo, e ir direto para a Introdução de Maria, Maria... do Padre Paschoal Rangel que transcrevi logo abaixo.

Ainda é tempo para repetir com o Beato Júlio Maria de Lombaerde:

A melhor introdução de um livro piedoso é uma prece ao Deus Todo-Poderoso, para que ele se digne abençoar as suas páginas.
"O' meu Deus, direi eu, portanto, com Sto. Agostinho, sinto o meu coração comover-se profundamente ao pensar que vou empreender o elogio de vossa Mãe, desta Mãe augusta, elevada a um grau tão elevado em graça e dignidade, que homem algum jamais, nem algum anjo pode sequer conceber a sua sublimidade".
E com S. João Damasceno:
"Abri, Verbo divino, abri vós mesmo os meus lábios, incapazes como são de dizer algo de conveniente a vosso respeito. Depositai sobre os meus lábios palavras que tenham a doçura do mel e a suavidade dos céus. Concedei-me uma graça semelhante àquela que o Espírito Santo se dignou conceder outrora a simples pescadores da Galileia, aos quais inspirou uma eloquência sobre-humana, para que eu proclame os insignes privilégios de vossa Mãe querida, menos indignamente do que o faria, entregue às minhas débeis forças".
(In, Por que Amo Maria)

Sábado, 28 de maio de 2016 - Dia de São Germano
_________ Cláudio Rangel

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Bem-vindos! Estamos em construção. Espero que vocês gostem do trabalho que iremos realizar, aqui. Já estão mais ou menos elaborados alguns comentários, não necessariamente na ordem das invocações. Mas, iremos publicando-os aos poucos, à medida que Deus permitir, sem data específica para terminar. Por isto convido-os para voltarem, eventualmente. Comentários são muito bem-vindos, e, desde já, agradecemos. 

Que o Espírito Santo nos ilumine, e que N. S. Auxiliadora interceda por todos nós.
Enquanto não concluímos nosso trabalho, contudo, reproduziremos a introdução que o Padre Paschoal Rangel preparou para o seu livro "Maria, Maria...", que eu indico a leitura e pode ser adquirido no site de O Lutador.

O Padre Paschoal, como já disse no "Pra Começo de Conversa", é homenageado e um dos inspiradores deste estudo que fazemos, e seu livro será bastante utilizado. Sem esquecer contudo que: "Foi Ela que tudo fez" (São João Bosco)


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Introdução à Maria, Maria... (Padre Paschoal Rangel)

Intensificou-se, na Igreja, nos últimos anos, graças ao impulso dado por Paulo VI, uma retomada do culto à Santíssima Virgem Maria. Mas foi especialmente após o Ano Mariano (1987-1988) e à Encíclica Redentoris Mater (1987), que o movimento em torno de uma redescoberta de Maria se vai operando.
Queremos também nós contribuir para esse retorno, em que se unam "nova et vetera", isto é, coisas novas e antigas. Ou, como já dizia Paulo VI, na Marialis Cultos (1974), impõe-se à Igreja como tarefa nada secundária "proceder sabiamente à restauração das práticas e exercícios de veneração para com a bem-aventurada Virgem Maria", assim como "secundar o impulso criador daqueles que, levados por por genuína inspiração religiosa e dando mostras de sensibilidade pastoral, desejem lançar novas formas de expressar tal veneração". (MC, 40.)
É claro que o culto, as práticas piedosas, os exercícios de veneração não são a única forma de valorizar Maria ou de viver em nós seu exemplo de vida cristã e evangélica. E o Papa sabia disso e o mostrou de várias maneiras.
Hoje, vamo-nos ater à repristinação e revitalização de um antigo e venerável exercício de piedade mariana: a Ladainha Lauretana, quero dizer, aquela louvação em série, tão rica de símbolos bíblicos, de devoção eclesial, abundantemente lastreada de Tradição patrística e teológica católica, que se recitava na Santa Casa de Loreto. 
As ladainhas que lá se recitavam não dependem da veracidade dessa "tradição". Elas são lindas, e, na forma atual, foram aprovadas muitas vezes pelos Papas. Houve tempos em que as invocações destas e outras ladainhas se deixavam rechear com exageros e erros doutrinários. Por isso mesmo, os Papas acabaram por proibir que se acrescentassem outras invocações a elas, sem aprovação prévia da Santa Sé.
Vale a pena, não só voltar a elas, mas também entendê-las mais a fundo. 
Trabalhamos o tempo todo com a consciência de estar fazendo um exercício de amor. E, por outro lado, conscientes de que, para usar uma expressão do Papa Paulo VI, "a piedade da Igreja para com a bem-aventurada Virgem Maria é elemento intrínseco do culto cristão"; de que ela "temraízes profundas na Palavra revelada e, ao mesmo tempo, sólidos fundamentos dogmáticos"; além disso, certos de que a "suprema razão" desse culto a Maria é "a insondável e livre vontade de Deus", que "a amou e nela fez grandes coisas; amou-a por causa de si mesmo e por causa de nós, e deu-a a si mesmo como no-la deu a nós". (MC, 56.)
Um teólogo católico moderno, e dos melhores, o Pe. Louis Bouyer, já havia em seu livro "Le trône de la Sagesse - Essai sur la signification du culte marial (Paris, Cert. 1957): "O culto de Maria não é um detalhe acessório no cristianismo católico. Ele corresponde, no catolicismo, a uma necessidade profunda." Há aspectos essenciais do catolicismo que só se esclarecem à luz da figura de Maria, diz o autor, que acrescenta: a história mostra suficientemente que, sem o culto a Maria, o cristianismo fica mutilado. Pode até parecer, no começo, que se preserva o essencial, preservando-se o Cristo. Ilusão! "Uma vez recusado aquilo que sua Mãe tem de único, o Cristo que se acreditava preservar, não é senão um Cristo desfigurado: Deus e a humanidade já não se religam nele" (Id., Ib., p. 9)
Trabalhando para aviventar esse culto e tornar Nossa Senhora mais conhecida; redescobrindo o sabor perdido de antigas e veneráveis invocações com que a piedade cristã, senão desde os tempos apostólicos, pelo menos desde a Igreja Antiga, reconhecia sua beleza, sua virtude, o amor que Deus lhe tinha, assim como o amor para com seu Deus, que a impregnava inteira - esperamos estar colaborando para um crescimento da própria Igreja de Cristo.
Com isto queremos servir a Deus, à Virgem e ao Povo de Deus, que, de algum modo, é também o Povo de Maria.

Belo Horizonte, 11 de fevereiro de 1991.
Padre Paschoal Rangel, S.D.N.


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